segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Mestres: Henrique Alves de Mesquita


Nascido em 15/03/1830, na desaparecida Ladeira do Castelo(Centro do Rio de Janeiro), este famoso compositor, maestro, trompetista e organista, ficou conhecido como "o criador do Tango Brasileiro". Mesquita foi um dos primeiros músicos que começaram a compor uma música que viria a ser chamada mais tarde de "Choro". Sua música era tocada tanto nos salões e teatros, como também nas rodas de Choro. Sua obra é composta por Lundú, Polca, Polca-Lundú, Polca-Cateretê, Valsa, Tango-Habanera, Tango-Brasileiro, Quadrilha e várias Operetas compostas para o teatro.
Tendo iniciado seus estudos aos 14 anos, com o compositor e violoncelista Desidério Dorison, e pouco tempo depois no Conservatório de Música, com o maestro Gioacchino Giannini, Henrique Alves de Mesquita foi o primeiro músico a estudar na Europa com o apoio do Império. Esta oportunidade lhe foi oferecida em virtude da medalha de ouro que ele recebeu no Conservatório de Música, ao concluir os cursos de Contraponto e Órgão. Em 1857, Mesquita chega à França, onde matricula-se no Conservatório de Paris, ficando por lá até 1866. O fim de sua estadia na França se tornou um mistério. Mesquita teria tido um relacionamento amoroso que acabou lhe trazendo sérios problemas: foi preso e expulso do Conservatório de Paris. Fato este que o levou a perder o apoio do Imperador D. Pedro II, que havia bancado sua ida à França. Este fato nunca foi esclarecido totalmente. É dessa época em que ele viveu em Paris, a Quadrilha "Soirée Brésilienne", que por sinal fez sucesso na capital Francesa, e que também foi encontrada em alguns cadernos de partituras de alguns chorões do fim do século XIX.
De volta ao Brasil, Mesquita, depois de fazer parte por algum tempo da orquestra do Alcázar como trompetista, torna-se o regente da orquestra do teatro Phoenix Dramática. Pouco tempo depois, em 1872, torna-se professor de Solfejo e Princípio de Harmonia do Conservatório de música, sendo efetivado 12 anos mais tarde como docente de instrumentos de metal. É desse período em que ele volta ao Brasil, o Tango "Olhos Matadores", composto em 1868, que até hoje é reconhecido como o primeiro Tango Brasileiro. O Tango Brasileiro é originado da fusão da Polca-Lundú com as danças espanholas(Zarzuelas, Tangos Andaluzes, Habaneras) e a Habanera Cubana.
Mesquita foi um músico muito popular e muito requisitado em sua época. Todos os grandes nomes do início do choro tiveram algum contato com ele. Alguns foram até seus alunos. Todos queriam desfrutar da amizade desse experiente músico. Joaquim Callado (que tornou-se seu aluno aos 18 anos de idade) e Anacleto de Medeiros (este sofrendo grande influência, no que se refere à Regência) foram alguns dos grandes nomes que estiveram sempre à sua volta. Um fato marcante que comprova isto, é a composição da Polca "Atraente" de Chiquinha Gonzaga, primeiro sucesso da compositora, que foi composta num dos vários saraus que aconteciam na casa do maestro (as famosas rodas de Choro). E não podemos deixar de citar também o Tango "Mesquitinha", composto pelo grande compositor e pianista Ernesto Nazareth, em homenagem ao maestro. Mesquita Faleceu em 12/07/1906.
Alguns dos sucessos de Henrique Alves de Mesquita que chegaram até aos dias hoje são os Tangos "Ali Babá" e "Batuque". Essas e algumas outras composições do maestro podem ser encontradas na coleção "Princípios do Choro Vol. 1"( Acari Records, 2002).


Um abraço !!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Choro: um breve panorama do seu nascimento

O Choro nasceu no Rio de Janeiro, na segunda metade do séc. XIX a partir da fusão das danças-de-salão européias (como a Polca, a Valsa, o Schottisch, e a Quadrilha) com os ritmos africanos que chegaram ao Brasil com os escravos (como o Batuque e o Lundú, originário das danças-de-roda e umbigadas angolanas). Podemos dizer que o "encontro" da Polca com o Lundú foi o pontapé inicial para o surgimento do choro. O Choro era tocado nos salões nobres, nas casas de classe média, e nos "arranca-rabos do povo". O termo "Choro", segundo o autor André Diniz, "surgiu da 'colisão cultural' entre 'choro' do verbo 'chorar' e chorus, que significa 'coro' em Latim". Outros autores, dizem também, que o termo surgiu pela forma "chorosa" que os músicos interpretavam os gêneros europeus, que faziam muito sucesso na época. O termo era utilizado na época em que surgiu (por volta de 1870) para se referir ao grupo instrumental formado por Flauta, Cavaquinho e Violões, que interpretavam de maneira "chorosa" e "abrasileirada" as danças européias. O flautista Joaquim Callado foi um dos fundadores desse formato com o seu famoso grupo "O Choro Carioca". Só na década de 1910 é que surge o gênero musical que chamamos de Choro. Até então, "Choro" era um estilo musical, que abrangia vários gêneros (os europeus, já influenciados com os ritmos afros, já citados acima, e mais alguns outros originados de outras fusões, como o Tango Brasileiro) e não um gênero musical. Talvez este seja o melhor conceito de Choro.
Uma questão de suma importância que jamais podemos deixar de citar quando se fala de Choro, é o ambiente sócio-cultural em que ele surge. O Choro esteve e está sempre ligado a "festas , comidas, bebidas e outras coisas boas da vida". O Choro é marcado pela interação entre as pessoas, fortalecendo sempre a coletividade entre elas. Casamentos, batizados, aniversários e bailes populares: foram nestes ambientes que nasceram as famosas Rodas de Choro. Era muito comum, os chorões (músicos que praticam o Choro) desafiarem uns aos outros. Os solistas preparavam verdadeiras armadilhas melódicas para os seus acompanhadores, no intuito de “derrubá-los” como uma espécie de provocação, uma brincadeira maliciosa. Isto ajudou a criar um "clima de liberdade e improviso fundamental" para o Choro. Os Chorões, eram na sua maioria, servidores públicos, civis e militares, do Arsenal da Marinha, da Estrada de Ferro, da Alfândega e principalmente dos Correios.


Eis aqui, um breve panorama do nascimento do Choro. Falaremos mais nas próximas postagens sobre cada um dos gêneros que integram o Choro, mestres, personagens, filmes, livros e autores, histórias, ou qualquer assunto que esteja ligado ao Choro. Estão todos convidados a postarem seus comentários. Um Abraço !

sábado, 2 de agosto de 2008

Sobre o episódio de ontem...

Ontem consegui parar no horário certo para assistir à mini-série "Chiquinha Gonzaga" (finalmente após alguns capítulos perdidos). E lembrei-me do que estávamos comentando na comunidade do quarteto. Parece até ingênuo presumir que,uma produção televisiva deste porte, envolvendo uma série de fatores de mercado inerentes ao processo, pudesse deter-se fielmente aos fatos apurados pela pesquisa histórica retratando somente aquilo que de fato ocorreu.
Eu, particularmente, não tenho tido muita sorte (como é de se esperar), e, sempre que consigo acompanhar um capítulo, geralmente, este trata mais do drama afetivo da personagem; enquanto o que é de meu particular interesse (os fatos ligados à música e ao nascimento do choro) fica em décimo - quinto plano.
Apesar disso, ontem tive alguma sorte. O Callado apresentou uma polca interessante (Sedutora) que ele teria, sutilmente, induzido ao entendimento de que fora feita para Chiquinha. E a composição dela (Sedutor) teria sido uma espécie de resposta àquela.
Bem, aí está! Muito se fala a respeito da relação entre Callado e Chiquinha. Sabe-se que eram amigos e dividiam participações em saraus. Muito se fala na literatura, também, a respeito da movimentada vida amorosa do Callado. Mas o fato é que, não se têm referências claras e contundentes nos livros a respeito desse suposto amor avassalador que a personagem do Norton Nascimento disse sentir pela protagonista. O que se fez no roteiro foi uma espécie de “aproximação”. Indícios existem. Mas sabe-se que indícios não são provas. Aproximou-se, promoveu-se um indício à categoria de fato. E aí a caímos naquela observação inicial; a trama precisa de emoção, de turbulência! Isso é o mercado, não é?!
Preciso fazer uma última observação para conseguir dormir em paz hoje à noite. Não vejo razão alguma para a trilha sonora fazer desfilar tantos “temas” exclusivos. É assim, a produção encomenda a um músico responsável pela trilha sonora uma carroçada de “temas” para dar fundo a determinados trechos da trama. Sem muitos detalhes, é isso que ocorre. Mas espera um pouco aí! A produção trata de um dos momentos históricos mais importantes no que tange à música brasileira, no qual se destacam compositores importantíssimos. Será que a trilha sonora não poderia explorar esse vastíssimo repertório para dar suporte à trama? Na época em que foi produzida a série o trabalho de recuperação das obras desses autores (do final do séc. XIX) ainda não era tão intensa. Mas os realizadores dessa recuperação, feita posteriormente à mini-série, não tinham um enésimo sequer do poder da emissora que a produziu. Então talvez esse trabalho de recuperação pudesse ter sido iniciado no período de rodagem da série, já que poder para investir nunca foi problema por lá, não é?

terça-feira, 29 de julho de 2008

Disposições Gerais

Desde a fundação deste conjunto em 2004, muito se pesquisou sobre história do choro, repertório, personagens etc. Mas foi preciso que alguém "de fora" do grupo tivesse a simples (porém sofisticada) idéia de fazermos um blog.
Pois bem, temos o intuito de trazer aqui algumas discussões, idéias, histórias curiosas, perfis de grandes músicos e/ou compositores da forma mais acessível possível para que todos tenham acesso à informação e possam opinar com base nela.
Talvez esse seja o momento de dividirmos o conhecimento que adquirimos sobre o assunto e interagirmos com aqueles que, de alguma forma, tenham algum interesse (seja músico ou não). Também traremos aqui novidades sobre apresentações e eventos relacionados ao gênero; não só, evidentemente, do nosso conjunto, mas de qualquer outro de que tenhamos notícia.
O nosso objetivo é, desde o início, vestir a camisa do choro e levá-lo aos palcos da forma como ele deve ser; independente se essa forma é "vendável" ou não. O choro deve ser sentido pela alma, e, jamais, meramente "vendido" aos ouvidos.